Carlos de souza - fcarlos@tribunadonorte.com.br
Em suas viagens pelo país, a pesquisadora e filósofa Tania Zagury, mestra em educação, vem mantendo um diálogo franco e aberto tanto com pais que a procuram, carregados de dúvidas a respeito de seu papel diante dos filhos, como com os próprios jovens. A profundidade de suas pesquisas e estudos, em boa parte registrados em livros que se tornaram referência, como O Adolescente Por Ele Mesmo e Sem Padecer no Paraíso, apontam para um paradoxo: muitos pais se vêem hoje diante do desafio de educar um pré-adolescente que muito cedo começa a reivindicar liberdade ou com um jovem adulto que, limitado pela concorrência profissional do mundo globalizado, vê-se obrigado a adiar a data de sua emancipação. Para responder às perguntas que são freqüentemente dirigidas a ela em palestras e encontros, Tania Zagury as relacionou e sintetizou em Encurtando a Adolescência, Record, 309 páginas, R$44,90. Em linguagem objetiva e não acadêmica, a autora indica caminhos e propõe a pais e educadores soluções para evitar o prolongamento da adolescência. Confira trechos da entrevista cedida pela editora.
A Organização Muncial da Saúde considerava adolescentes os jovens entre 13 e 18 anos. Agora, este período da vida corresponde à faixa etária entre 10 e 20 anos. A que se atribui esta mudança?
Estudos importantes na área de comportamento, medicina e educação vêm registrando fenômenos como a menarca, por exemplo, que é a primeira menstruação na menina e marca a entrada na puberdade, ocorrendo cerca de dois anos mais cedo. Além disso, o próprio comportamento das crianças vem sofrendo mudanças, parte delas gerada pela mídia eletrônica, outra por fatores sociais. Por exemplo, a melhoria na alimentação da população de diversos países também concorre para a entrada mais cedo na puberdade. Por outro lado, detecta-se a postergação da saída da adolescência. O jovem hoje não tem tanta pressa de se tornar independente, efetivamente adulto. Uma das causas é, sem dúvida, a crescente necessidade de especialização nas mais diversas profissões, o que retarda a possibilidade de independendência financeira. A grande liberdade que os pais dão aos filhos também colabora para que eles não sintam necessidade de sair de casa. Juntando estes dois fatos - a entrada mais cedo na puberdade e a saída mais tardia da adolescência -, tem-se o fenônemo do alongamento da adolescência, de que trato no livro.
Quais são as conseqüências disso para a sociedade?
São várias. Uma delas é a falta de responsabilidade social que uma parte dos jovens adolescentes de hoje apresenta. Desejam receber muito da sociedade, mas pouco pensam em contribuir efetivamente para a solução dos problemas.
Há muita polêmica sobre a real influência dos meios de comunicação na aceleração do amadurecimento da criança. Qual é a sua opinião sobre o assunto?
A meu ver, não existe este "rápido amadurecimento" da criança por influência dos meios de comunicação. O que há é uma grande manipulação das crianças, que, em decorrência, apresentam atitudes de precocidade que nada têm a ver com maturidade. Maduro é aquele que compreende o que ocorre no mundo à sua volta, na sociedade e nas relações interpessoais. Os meios de comunicação, infelizmente, colaboram mais para a criação de necessidades artificialmente produzidas, na modelação de comportamentos consumistas e alienados, antes que na formação ética e consciente de cidadãos maduros e participantes.
Filhos adultos morando com os pais é cena corriqueira na realidade brasileira. Mudou o comportamento do adolescente ou a crise econômica tem ajudado a fixar o jovem na casa paterna?
Mudaram, sim, os jovens, mas especialmente porque mudaram os pais desses jovens. A superproteção em relação aos filhos - especialmente nas camadas A, B e C da população - aliada à grande liberdade que os adolescentes têm atualmente em suas casas (em alguns casos podendo até transar no quarto) e à pequena parcela de responsabilidade que lhes atribuem, como o cuidado da casa ou outras tarefas domésticas, faz com que, mais até do que a crise social, o jovem só pense em assumir a sua própria vida muito mais tarde. Afinal, para que ter mais trabalho, se moram bem, com toda a liberdade e sem quaisquer responsabilidades?
A marginalização, antes associada às classes menos favorecidas economicamente, é realidade também na classe média. O que tem levado esses jovens a trocar as páginas das colunas sociais pelas páginas policiais dos jornais?
Além da superproteção dos pais, da necessidade exagerada de consumo de bens materiais e da quase inexistente atribuição de responsabilidades aos adolescentes, a falta de um projeto de vida consistente é também fator preponderante na crescente marginalização de jovens de classes média e alta. Outro elemento é a falta de limites na educação. Crianças que crescem achando que podem fazer tudo o que querem não aprendem a distinguir o direito dos outros, atendo-se apenas às próprias necessidades ou àquilo que julgam ser suas necessidades. É neste sentido que o livro Encurtando a adolescência trabalha: buscando ajudar os pais a compreender que a família tem um papel importantíssimo e insubstituível na formação das novas gerações e levando-os a agir de acordo com a idéia de que cada fase tem seus encantos, desde que vividas no momento certo.
Uma das características mais marcantes de Encurtando a Adolescência e seus outros livros é colocar as questões de forma prática, sem generalizações. Não deveria ser esta também a postura do sistema educacional?
Generalizar é empobrecer a realidade. Procuro escrever de forma objetiva, sem, no entanto, simplificar a realidade. O que pais e educadores querem e precisam é de uma forma de raciocionar, de repensar a realidade que lhes dê esperança, segurança e capacidade decisória. É o que procuro fazer no meu trabalho, sem apontar soluções ou caminhos prontos. Cada pai, cada educador é um adulto responsável. Parto deste princípio para trabalhar a idéia de que cada um deles tem condição de tomar decisões educacionais adequadas ao seu modus vivendi.
Em suas viagens pelo país, a pesquisadora e filósofa Tania Zagury, mestra em educação, vem mantendo um diálogo franco e aberto tanto com pais que a procuram, carregados de dúvidas a respeito de seu papel diante dos filhos, como com os próprios jovens. A profundidade de suas pesquisas e estudos, em boa parte registrados em livros que se tornaram referência, como O Adolescente Por Ele Mesmo e Sem Padecer no Paraíso, apontam para um paradoxo: muitos pais se vêem hoje diante do desafio de educar um pré-adolescente que muito cedo começa a reivindicar liberdade ou com um jovem adulto que, limitado pela concorrência profissional do mundo globalizado, vê-se obrigado a adiar a data de sua emancipação. Para responder às perguntas que são freqüentemente dirigidas a ela em palestras e encontros, Tania Zagury as relacionou e sintetizou em Encurtando a Adolescência, Record, 309 páginas, R$44,90. Em linguagem objetiva e não acadêmica, a autora indica caminhos e propõe a pais e educadores soluções para evitar o prolongamento da adolescência. Confira trechos da entrevista cedida pela editora.
A Organização Muncial da Saúde considerava adolescentes os jovens entre 13 e 18 anos. Agora, este período da vida corresponde à faixa etária entre 10 e 20 anos. A que se atribui esta mudança?
Estudos importantes na área de comportamento, medicina e educação vêm registrando fenômenos como a menarca, por exemplo, que é a primeira menstruação na menina e marca a entrada na puberdade, ocorrendo cerca de dois anos mais cedo. Além disso, o próprio comportamento das crianças vem sofrendo mudanças, parte delas gerada pela mídia eletrônica, outra por fatores sociais. Por exemplo, a melhoria na alimentação da população de diversos países também concorre para a entrada mais cedo na puberdade. Por outro lado, detecta-se a postergação da saída da adolescência. O jovem hoje não tem tanta pressa de se tornar independente, efetivamente adulto. Uma das causas é, sem dúvida, a crescente necessidade de especialização nas mais diversas profissões, o que retarda a possibilidade de independendência financeira. A grande liberdade que os pais dão aos filhos também colabora para que eles não sintam necessidade de sair de casa. Juntando estes dois fatos - a entrada mais cedo na puberdade e a saída mais tardia da adolescência -, tem-se o fenônemo do alongamento da adolescência, de que trato no livro.
Quais são as conseqüências disso para a sociedade?
São várias. Uma delas é a falta de responsabilidade social que uma parte dos jovens adolescentes de hoje apresenta. Desejam receber muito da sociedade, mas pouco pensam em contribuir efetivamente para a solução dos problemas.
Há muita polêmica sobre a real influência dos meios de comunicação na aceleração do amadurecimento da criança. Qual é a sua opinião sobre o assunto?
A meu ver, não existe este "rápido amadurecimento" da criança por influência dos meios de comunicação. O que há é uma grande manipulação das crianças, que, em decorrência, apresentam atitudes de precocidade que nada têm a ver com maturidade. Maduro é aquele que compreende o que ocorre no mundo à sua volta, na sociedade e nas relações interpessoais. Os meios de comunicação, infelizmente, colaboram mais para a criação de necessidades artificialmente produzidas, na modelação de comportamentos consumistas e alienados, antes que na formação ética e consciente de cidadãos maduros e participantes.
Filhos adultos morando com os pais é cena corriqueira na realidade brasileira. Mudou o comportamento do adolescente ou a crise econômica tem ajudado a fixar o jovem na casa paterna?
Mudaram, sim, os jovens, mas especialmente porque mudaram os pais desses jovens. A superproteção em relação aos filhos - especialmente nas camadas A, B e C da população - aliada à grande liberdade que os adolescentes têm atualmente em suas casas (em alguns casos podendo até transar no quarto) e à pequena parcela de responsabilidade que lhes atribuem, como o cuidado da casa ou outras tarefas domésticas, faz com que, mais até do que a crise social, o jovem só pense em assumir a sua própria vida muito mais tarde. Afinal, para que ter mais trabalho, se moram bem, com toda a liberdade e sem quaisquer responsabilidades?
A marginalização, antes associada às classes menos favorecidas economicamente, é realidade também na classe média. O que tem levado esses jovens a trocar as páginas das colunas sociais pelas páginas policiais dos jornais?
Além da superproteção dos pais, da necessidade exagerada de consumo de bens materiais e da quase inexistente atribuição de responsabilidades aos adolescentes, a falta de um projeto de vida consistente é também fator preponderante na crescente marginalização de jovens de classes média e alta. Outro elemento é a falta de limites na educação. Crianças que crescem achando que podem fazer tudo o que querem não aprendem a distinguir o direito dos outros, atendo-se apenas às próprias necessidades ou àquilo que julgam ser suas necessidades. É neste sentido que o livro Encurtando a adolescência trabalha: buscando ajudar os pais a compreender que a família tem um papel importantíssimo e insubstituível na formação das novas gerações e levando-os a agir de acordo com a idéia de que cada fase tem seus encantos, desde que vividas no momento certo.
Uma das características mais marcantes de Encurtando a Adolescência e seus outros livros é colocar as questões de forma prática, sem generalizações. Não deveria ser esta também a postura do sistema educacional?
Generalizar é empobrecer a realidade. Procuro escrever de forma objetiva, sem, no entanto, simplificar a realidade. O que pais e educadores querem e precisam é de uma forma de raciocionar, de repensar a realidade que lhes dê esperança, segurança e capacidade decisória. É o que procuro fazer no meu trabalho, sem apontar soluções ou caminhos prontos. Cada pai, cada educador é um adulto responsável. Parto deste princípio para trabalhar a idéia de que cada um deles tem condição de tomar decisões educacionais adequadas ao seu modus vivendi.
TN via PC.
Nenhum comentário:
Postar um comentário