Wálter Maierovitch
Eleita deputada federal por ser filha de Joaquim Roriz ((DEM), ex-governador e caudilho distrital, Jaqueline Roriz safou-se na terça-feira 30 de ter o mandato parlamentar cassado por falta de decoro. Seu processo mostrou ao País a permissividade, o espírito de corpo, o desrespeito devotado aos cidadãos representados e o baixo padrão ético da Câmara Federal.
No fundo, mais um sinal demonstrador de que, no Brasil, grassa a impunidade e
de ter virado hábito, nas três esferas de governo e na vida civil, a obtenção de
indevidas e ilegítimas vantagens econômico-financeiras em prejuízo do Erário e
do cidadão de bem
Os brasileiros assistiram, em março, à difusão de imagens colhidas em 2006.
Nelas, Jaqueline, desavergonhada, aparece a receber 50 mil reais em papel-moeda
e sem origem legal. A entrega era feita por Durval Barbosa, conhecido como o
“homem da mala preta” do esquema de corrupção comandado por José Roberto Arruda (DEM),
então governador do Distrito Federal. Arruda, que trocou a cadeia pela renúncia,
aparece na mesma cena.
Como se percebe pelo arco temporal, os eleitores de Jaqueline não sabiam que
tinham outorgado mandato de representação a uma partícipe de esquema criminoso
de desvio de dinheiro público. Submetida a processo administrativo disciplinar
por falta de decoro, a filha de Roriz, sem negar o recebimento de dinheiro com
odor de peculato e corrupção, teve acolhida a sua tese de defesa: a
anterioridade do fato indecoroso ao início do exercício do mandato
parlamentar.
A sua tese foi aceita por 265 colegas de Parlamento, com 20 abstenções. Pela
cassação do mandato optaram 166 parlamentares, quando, para a efetivação, seriam
necessários 257 votos.
Mais uma vez a votação foi secreta. Apesar de a democracia brasileira estar
estribada na representação popular e no princípio constitucional da
transparência, os deputados, em notória inconstitucionalidade, continuam, nesse
tipo de processo, a esconder seus votos dos cidadãos. Pela canhestra tese
sufragada, vale tudo antes da posse. Como se a vida pretérita não maculasse a
instituição e o parlamentar.
Em um lugar conhecido como paraíso para lavagem de dinheiro, oferecemos,
também, exemplos de lavagem da ficha suja e transformamos a deputada Jaqueline
numa virgo intacta.
Blog do Bode Lyra via PC.
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